Sou ainda menino, pequeno, franzino.
Não tenho nome, não tenho lar.
Estou aqui. Perdido. Sozinho.
Não tenho pra onde voltar.
Minha casa é a rua.
Realidade nua e crua.
Suja. Muda. Sem calor.
Não me dá do seu amor. Não têm.
Ganho uns trocados nos cruzamentos e praças.
Não matam minha fome, alimentam minha desgraça.
Um pouco de cola, um pouco de "pó"
Me mato a cada dia. Sem dó.
Para uns sou problema .
Para outros sou dilema.
Buscam solução. Será?
Que solução. Prá quem servirá?
Se tenho direitos não os conheço.
Escola. Lazer. Sonhos distantes.
Realidade presente é a marquise ou a ponte.
"Cama" ao relento. Eu mereço?
Meu esporte é correr.
Da policia. De gangues que não faço parte.
Meu prémio é sobreviver.
Dia a dia sem muito alarde.
Assim é que sou.
Menino. Franzino.
Sem amor. Sem carinho.
Sem pátria. Sem "ninho".
Sou da rua. Sou seu.
Fruto do sonho irreal.
Seu bem. Seu mal.
Esse sou eu.
De Vasconcelos.